Estamos iniciando a série de entrevistas com escritores renomados da literatura gaúcha e nacional. Nosso primeiro entrevistado é o jornalista e professor da Famecos/PUCRS Tibério Vargas Ramos, autor de Acrobacias no crepúsculo, Contos do tempo da máquina de escrever, A santa sem véu e Sombras Douradas.
Espaço Cultural: O senhor foi repórter de jornal e atualmente é professor na faculdade de comunicação da PUCRS, como nasceu a vontade de escrever livros?
Tibério Vargas Ramos: Entrei no jornalismo porque sempre gostei de escrever, foi uma maneira que encontrei sendo repórter, redator e editor de jornal. Em meados dos anos 80, comecei a escrever literatura em casa, esses textos foram ficando inéditos, porque era difícil publicar, e também porque eu tinha desconfiança da qualidade do que eu escrevia. Em 2016, comecei a pensar em apostar na literatura. Durante 24 anos fui jornalista e em 1992, quando saí da Zero Hora, me tornei professor. Costumo fazer uma brincadeira: dizem que a gente só tem uma vida, vivi uma como jornalista, outra como professor e agora tenho que viver uma terceira vida como escritor.
Espaço Cultural: Erotismo e tecnologia estão presentes em seus livros, fale um pouco sobre isso:
Tibério Vargas Ramos: Em 2006 resolvi fazer o Acrobacias no Crepúsculo, que não é um relato pessoal, mas é o mundo que eu vivi. Em 2013, resgatei histórias e escrevi dois livros, o Contos no tempo da máquina de escrever e A Santa sem Véu. Todos eles são baseados em literatura erótica, pois acredito que o erotismo na literatura fascina e é uma forma de prender o leitor, dar prazer na leitura.
Sombras Douradas escrevi quando começou a internet, pois queria falar sobre algo mais complexo. Então, comecei a escrever sobre a transformação do mundo analógico para o digital e misturei o renascimento com a tecnologia, falando sobre o quanto essas duas épocas mudaram o mundo. Reconheço que não poderia escrever esse livro se não fosse a tecnologia.
Espaço Cultural: Como é sua rotina para escrever os livros?
Tibério Vargas Ramos: Sou muito disciplinado, nas férias, por exemplo, procuro manter uma rotina, leio de manhã e escrevo a noite.
Espaço Cultural: É difícil lançar livros no Brasil?
Tibério Vargas Ramos: É muito difícil lançar e vender livros no Brasil, o brasileiro compra livros, mas compra livros da moda e clássicos. Um dos desafios são as livrarias nas universidades, pois esse ambiente tinha que ser mais bem explorado pela literatura. A imprensa também tem muita dificuldade em divulgar a literatura, são confrarias que pra ti vencer é muito difícil.
Espaço Cultural: Quais autores você admira e gosta de ler?
Tibério Vargas Ramos: Os autores que forjaram meu jeito de escrever foram Ernest Hemingway e Nelson Rodrigues. Aprendi a escrever imitando o Nelson Rodrigues. Também gosto do Paul Auster e do Mário Benedetti. Não sou um leitor voraz, sou parcimonioso. Atualmente estou lendo Balzac, sendo que tenho uma biblioteca em casa com mais de mil livros.
Espaço Cultural: O que você pensa sobre esses fenômenos de vendas de livros, como blogueiros e youtubers?
Tibério Vargas Ramos: Antigamente a maioria das pessoas começava lendo romances policiais. Atualmente, não se pode exigir que um garoto ou uma garota leia um clássico. Quantas pessoas começaram a ler Paulo coelho, mas aquilo foi um rito de passagem, e hoje lêem livros mais complexos. Hoje em dia, também existe a literatura baseada em séries de televisão, com vários personagem e situações. O importante é que a pessoa está lendo, comprou um livro, e isso é muito bom.
Espaço Cultural: Quais são seus próximos projetos?
Tibério Vargas Ramos: Pretendo me aposentar no final desse ano, e atuar somente como escritor. Não será uma aposentaria, mas sim, uma nova atividade, que me dá muito prazer e exige muita disciplina. Também tenho um site o www.tiberiovargasramos.com.br onde publico ensaios e contos inéditos.